terça-feira, 25 de novembro de 2008

Do Estado de São Paulo

Inflação e comodismo

Terminou quase em festa a reunião ministerial convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira, para discussão das pressões inflacionárias pressões inflacionárias e das possíveis ações contra a alta de preços. Mas o presidente decidiu não tomar nenhuma nova medida, porque o governo, segundo se concluiu, já fez a sua parte.

Além disso, o Brasil, de acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, é quase uma ilha de estabilidade no meio de um vasto oceano agitado pela inflação. Há pouco mais de 30 anos, o governo de então classificou o País como ilha de prosperidade durante a crise do petróleo. Poucos anos depois foi preciso, com profunda tristeza, rever a avaliação. Desta vez, pelo menos um órgão público, o Banco Central (BC), permanece mobilizado para enfrentar o perigo. Se a inflação for contida até o começo do próximo ano, será graças, portanto, à abominada política de juros altos. Será mais difícil e talvez mais custoso economicamente, mas esse é o caminho traçado, por enquanto.

O Brasil, como disse o ministro Mantega, é um dos poucos países com a inflação dentro da meta, isto é, dentro do intervalo de tolerância definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O mercado financeiro continua projetando uma inflação abaixo do limite, para o fim do ano e para 2008. As projeções, no entanto, pioraram nas últimas duas semanas e os índices de preços mostram um quadro cada vez mais desfavorável. Primeiro ponto importante: a situação só não é pior porque o BC percebeu mais cedo os sinais de perigo e começou a agir. Sua disposição, como ficou claro na última Ata do Copom, é continuar elevando os juros para conter a demanda.

Segundo ponto: ao contrário da tese exposta pelo ministro da Fazenda, o Executivo não tomou nenhuma iniciativa relevante para deter a onda inflacionária. O ministro mencionou a decisão de elevar de 3,8% para 4,3% do PIB a meta de superávit primário deste ano. Mas a decisão apenas consagrou uma situação de fato. O resultado obtido até abril já estava muito próximo desse “novo” objetivo, não por causa de uma política austera, mas, basicamente, como conseqüência da elevação da receita.

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.superávit primário.obtido até agora não foi suficiente para conter a expansão da demanda. O governo continua gastando muito e ainda não há sinais importantes de arrefecimento do consumo. O aumento do IOF cobrado nos empréstimos a pessoas físicas não afetou a tendência. Serviu para engordar a receita do Tesouro. Para isso o governo elevou o imposto no começo do ano, e não para conter a demanda. O objetivo era compensar, em parte, a extinção da CPMF, mas o ministro parece haver esquecido esse detalhe.

Em sua alegre exposição, o ministro da Fazenda insistiu na tese de uma inflação quase limitada aos preços de alimentos. Os fatos continuam desmentindo, e cada vez mais claramente, esse ponto de vista. Os maiores aumentos, é verdade, têm ocorrido nos preços da comida, mas a onda inflacionária já se espalha pela maior parte dos componentes dos índices de preços. Já não se trata de inflação localizada, até porque o encarecimento das matérias-primas - alimentos, derivados de petróleo e metais - tende a contaminar todos os setores da economia. A primeira providência, portanto, deve ser a contenção da demanda para limitação de repasses.

O estímulo à produção agrícola, prometido pelo governo, será uma providência bem-vinda. Mas uma boa política de financiamento e de preços mínimos seria necessária mesmo sem as pressões inflacionárias de hoje. A boa oferta de alimentos é condição permanente de estabilidade de preços. Além disso, é fator indispensável à segurança das contas externas. Sem uma boa safra na temporada 2008-2009, a situação brasileira se agravará. Mas uma boa safra no Brasil, desejada por todos, será insuficiente para inverter a tendência dos preços internacionais, se confirmadas as perdas estimadas nos EUA.

O governo poderia sem grande sacrifício elevar para 4,8% do PIB a meta de superávit primário. Isso tornaria mais segura e mais fácil a política antiinflacionária. Falta o presidente admitir essa obviedade.

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terça-feira, 11 de novembro de 2008

A mídia tradicional resiste enquanto pode à implacável ação do tempo. Tempo que tudo muda: as rugas na pele, o formato da rocha, as estruturas políticas, as relações familiares e, claro, o jornalismo. Mas, a cada ano, tal resistência é minada tanto pelo avanço tecnológico na área de comunicação quanto pela mudança de comportamento dos consumidores de notícia. O webdesigner Jakob Nielsen previu o fim dos tradiciaonais meios de comnunicação - jornais impressos, revistas, TV e rádio - ainda em 1998, no texto batizado The End Legacy Media.

Como o pai que deve "abrir a cabeça" para se relacionar com o mundo contemporâneo do filho, muitas vezes indo contra a sua própria vontade, o tradicionalismo na mídia também precisará abrir mão das raízes para entar na nova era. Na previsão de Jakob Nielsen, nada de abrir o jornal para ler uma notícia, a revista para uma reportagem mais aprofundada ou a TV para um vídeo. Nos novos tempos, tudo se converge para um único meio, onde o leitor/espectador encontra as suas necessidades e anseios de consumo ali, a um clique de distância. O avanço da internet, e portanto este computador que para o qual você olha, é o novo endereço de tudo que hoje se espalha na velha mídia.

De alguma forma, uma década depois da bruxaria de Jakob, experimentamos em carto grau desta mudança. No texto em questão, o pesquisador jé dizia que, em 2008, os leitores já prefeririam ler um texto na web do que abrir um calhamaço de papel (será por isso que você está aqui, agora?). Mas estamos no meio da metamorfose. Talves por isso, todo esse processo cause certa estranheza tanto para consumidores como para produtores.

Outro ponto levantado pelo webdesigner e pesquisador é a interatividade entre meio e consumidor (e a prova real de que ele não delirava naqueles tempos é esse texto que você lê agora. Comentários saõ bem-vindos!). Jakob falou sobre a tendência de quem busca os meios de comunicação em participar da produção do material ali publicado. Dito e feito. A interatividade é uma máxima para as grandes empresas que lutam para atravessar a era multimidiática sem maiores dores.

Com relação aos velhos tubarões de Redação, que gozam do prazer da escrita ou da produção tradicional, Jacob alerta para uma reformulação do perfil desses profissionais. É preciso se adaptar, pois espaço não deve faltar, segundo Nielsen, para os especialistas que se deixarem levar pela onda da convergência. Como ainda não inventaram uma máquina para voltar no tempo: apertem os cintos, leiam as instruções de segurança e boa viagem!

Clique aqui para ler artigos acadêmicos sobre webjornalismo.